segunda-feira, 27 de julho de 2009

Proteção

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa

2 comentários:

  1. Apenas almas perdidas diante o vasto mundo Devaneio, é o que somos, insignificantes seres em busca do mundo irreal, onde tudo é perfeito, mas o que não reconhecemos é a realidade que nos cerca, tênua e frágil, bem mais do que perfeita, para que eu e você possamos encontrar o nosso equilíbrio...

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  2. Somos Instrumentos...iludidos pelo livre arbitrio...rsrsrsrs...

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